07 de fevereiro

Estou sempre dizendo a mim mesma que as coisas levam tempo para serem realizadas, e que é preciso prosseguir com paciência e perseverança, mesmo quando o progresso parece mínimo ou inexistente. Digo também que, em pouquíssimas coisas, vemos o resultado de forma imediata. Na maioria delas, é o conjunto de imperceptíveis progressos que gera um resultado a médio ou longo prazo. Coloco-me, então, para observar as árvores que eu plantei, quanto tempo levaram para estarem agora maiores do que eu… É uma lei natural, o modo como o nosso planeta funciona, tudo é muito lento. Então, digo a mim mesma: “continue fazendo, todo dia um pouquinho, até um dia se surpreender: as verduras e os legumes no seu prato, a quantidade certa de água, a escrita diária, a adubação das suas plantas, a economia do seu dinheiro, tudo, um pouquinho a cada vez.”

17 de fevereiro

Aos poucos, a minha avó foi perdendo a capacidade de andar e de sustentar-se em pé, mas ainda podia falar e se mexer, abraçar e fazer carinho, entender o que todos estavam dizendo e conversar. Depois, ela parou de falar fluentemente, mas ainda o fazia trocando algumas palavras. Depois, perdeu os movimentos da deglutição e passou a se alimentar com uma sonda, mas compreendia linhas e entrelinhas, e podíamos expressar o nosso amor e ter a certeza de que éramos compreendidos. Agora, estamos felizes porque a minha avó fixou o olhar em alguma coisa ou movimentou os dedinhos do pé. Estamos felizes porque ela respira e sente o carinho do tato e as cócegas no pé. Minha avó vai aos poucos, bem aos poucos, nos preparando para quando estivermos sozinhos da sua grande companhia. Por enquanto, ela respira e gosta muito de música. E nos ensina a agradecer por um único piscar de olhos. Ela vai nos mostrando tudo o que somos e tudo o que temos de tão valioso na vida.

11 de outubro

Fazer um trabalho da faculdade é relacionar-se com ele, voltar todos os dias para ler o conto ou o poema de novo e de novo, encontrar um caminho por onde conduzir o tema do nosso entendimento. E não pode ser a uma semana do prazo de entrega sob o risco de se perder um grande amor. É preciso tempo para familiarizar-se com ele. Fazer um trabalho da faculdade é mesmo muito bonitinho.

19 de setembro

O que mais faço ultimamente é estudar grego. Não sei onde eu estava com a cabeça para me matricular nessa disciplina, Língua Grega IV. É tão difícil, mas tão difícil lembrar-me de todos os padrões de declinação, tempos, modos e aspectos verbais, além de milhares (mesmo) de novas palavras. O bom é quase estar lendo um diálogo socrático no original e uma comédia grega que, de engraçada, não tem nada! De qualquer modo, tudo o que estudamos muito, por mais difícil que seja, torna-se inevitavelmente muito familiar para nós. É o que tem acontecido tanto com a Língua Grega Antiga quanto com o Corte e Costura.

11 de junho

Estava aqui pensando que, embora as vicissitudes da vida possam às vezes ser enormes, é preciso buscar alguma bondade ou compreensão em nossas palavras e atitudes para que as outras pessoas também possam viver e ser o melhor de si mesmas. Eu bem que gostaria de agir ou de ser para alguém tudo aquilo que lhe faltou algum dia, um bálsamo benigno, porque toda relação humana é muito delicada e passível de deixar algumas dores ou traumas. É por isso que, muitas vezes, eu me afasto, quando não posso ser ou estar no melhor de mim, eu prefiro nada oferecer, mas até a distância ou a recusa pode desamparar ou influenciar negativamente outra pessoa… então, não sei. Dá vontade de deixar tudo para o tempo da delicadeza, quando alcançá-la. Minha mãe, por exemplo, que é a pessoa com quem eu mais convivo, tem uma caixinha de remédios; eu tenho outra para cuidar dos gatinhos que aparecem na minha janela, e seguimos todos juntos, assim.